sábado, 3 de agosto de 2013

Desajustados

É que a realidade está sempre muito bem disfarçada entre meus olhos. Por diversas vezes fugi do eixo para não petrificar. Fiquei ali, escondida entre um mundo e outro esperando que algo inusitado acontecesse. Acho que foi esse tempo, mais do que prolongado, de espera que me endureceu. Não vi as delícias passarem, perdi os melhores jogos de azar, corri atrás do tempo, esperando ele voltar e... nada. Não existe culpa que funcione como bálsamo. A culpa é só mais uma. É trágica, traiçoeira, deixa-nos insanos. Remediar com liberdade até funciona, mas voltar à realidade é menos perfeito. É como se sonhasse em ser um papel fotográfico, desses que vão amarelando com o tempo, que passam por vários punhos, arrancam sorrisos, lágrimas e então voltam para as caixas empoeiradas.
É que, nem sempre é fácil pensar que a realidade está logo ali, entre a mente sã e o desajustado. O mundo não para no momento que desejamos, nem fica perfeito ao abrir dos olhos, mas sonhos existem, outro lado a considerar. Lá, no mundo dos devaneios é fácil perder a linha. Não onera, não exige, não pondera. Todos os sentidos juntos e mais um, a falsa realidade. Acho que esse é o colapso perfeito. Quantas noites mal dormidas, esperando o dia raiar, sendo que ele já raiou na mente. O corpo estava ali, inerte, mas a mente, essa sádica, trabalhando como uma segunda-feira. Um relógio impreciso, danado de ruim.
E, ao mesmo tempo em que queremos fugir da realidade, pensamos no viver, como uma rocha inquebrável, algo insolúvel, implacável, imutável. É tanta certeza do amanhã que, às vezes, fica até difícil lidar com o imprevisto, com aquilo que nos joga pela janela, sacode, faz sumir o chão. É aí que se percebe a fragilidade do existir e, refugiado entre o viver e o acontecer, sem esperar que seja concreto, o desejo é de acordar do maldito sonho, só que entre beliscões e suspiros, está bem acordado. O mundo não para de pregar peças.

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