sábado, 3 de agosto de 2013

Um beiço infinito

A vida tem essa urgência, nos tira do conforto, prega aquelas peças irremediáveis e torna tudo mais difícil. O sabor e as delícias quase sempre ficam pra trás, mas a verdade é que TANTO FAZ.
Quando voltava para o trabalho, depois de engolir metade de um almoço quase gelado, pude sentir o descontentamento alheio bem diferente do habitual. Tinha esse bicicleteiro que pedalava apressado até o trabalho em sua barra circular, enquanto eu tentava, mais que depressa, atravessar a avenida cheia, percebi que ele tonteou e desviou o caminho. O bicicleteiro, calculo eu, pedreiro - as manchas de tinta não mentiam -, rondava uma dessas revendedoras de automóveis, olhos fixos em uma CG 125. Depois de curvar o beiço em oito, sim, um oito infinito, disse, de maneira inaudível: MUITO CARO! Não saiu som, mas a mímica perfeita foi clara. Rapidamente esqueceu o desejo e voltou ao trajeto. Tinha nada no olhar, algo como um tanto faz. Naquele momento me senti exatamente igual a ele, com um TANTO FAZ carimbado no braço. Também não tinha nada no olhar, caminhava ao mesmo destino, mas é que o mundo é só esse e ter pouco mais de 20 anos nos deixa meio tolos, com preguiça de viver. Como se estivéssemos esperando que o céu caia e o chão suba. Tanto faz!


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